sexta-feira, 31 de dezembro de 2010


Eu  também sou América

Langston Hughes

Também canto a América
Sou seu "brother".
Quando chega alguém,
Eles me mandam comer na cozinha
Mas eu rio,
Como bem,
E fico forte.

Amanhã
Sentarei à mesa
Quando chegar alguém.
Então ninguém se atreverá
A me dizer
"Coma na cozinha".

Aí eles vão ver como sou bonito
E ficarão envergonhados.

Eu também sou a América.

(Tradução de Sylvio Back, Caderno Mais!
Folha de
São Paulo, 15 de fevereiro de 1998.)


(I am the darker brother./They send me to eat in the kitchen/When company comes,/But
I laugh,/And eat well,/And grow strong.//Tomorrow,/I'll be at the table/When
company comes./Nobody'll dare/Say to me,/"Eat in the kitchen,"/Then.//Besides,/They'll
see how beautiful I am/And be ashamed--//I, too, am America.)

Apenas 37 anos nos separam dessa foto. Feliz 2011.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!

René Char

Teus dezoito anos refratários à amizade, à malevolência, à tolice dos poetas de Paris, bem como ao zumbido de abelha estéril de tua família ardenesa um pouco maluca, fizeste bem em espalhá-los aos ventos ao largo, de lançá-los sob a lâmina de sua precoce guilhotina. Tiveste razão em abandonar o bulevar dos preguiçosos, os botecos dos poetastros pelo inferno dos idiotas, pelo comércio dos astuciosos e o bom-dia dos simples.
Esse elã absurdo do corpo e da alma, essa bala de canhão que atinge o alvo fazendo-o explodir, sim, isso é de fato a vida de um homem! Não se pode, ao sair da infância, estrangular indefinidamente seu próximo. Se os vulcões mudam pouco de lugar, suas lavas percorrem o grande vazio do mundo e traz-lhe virtudes que cantam nas suas feridas.
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Somos alguns dos que acreditam sem precisar de provas na felicidade possível ao teu lado.
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(Um belo e oportuno  poema de René Char para este nosso final de ano.)