quinta-feira, 24 de novembro de 2011


 
Um poema de Esman Dias

Poética

 para Everardo Norões

A aranha esquiva
do teu poema
se indociliza
na tua mão

Morna e lasciva
 pétala, flanco,
sabem teus dedos
tangê-la, mansos?

Sossegue imóvel
tua ciência;
hiberne lento
teu coração

Deixa que a aranha
do teu poema
navegue a seda
da tua mão.

(Ilustração: Paul Klee)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011


O olhar do cão


Dormi mal, ontem. 
Nenhum transtorno. 
Apenas um olhar e o asco. O asco ao ver na tela a figura cínica de certo Alfredo Astiz,
o ‘anjo da morte’, ex-oficial da Marinha argentina, torturador, condenado à prisão perpétua.  
 Cínico e prepotente. No momento do veredito, acaricia a bandeira argentina pregada na lapela. 
A mesma bandeira que não foi capaz de defender nas Malvinas
quando se rendeu ao exército britânico. 
Como se renderam aqueles para quem o simulacro de pátria serve apenas a interesses subalternos.

Astiz infiltrou-se entre familiares de ‘desaparecidos’ para reprimir e matar. 
É responsável pelo desaparecimento de Azucena Villaflor, Esther Ballestrino, María Ponce,
mães da Plaza de Mayo
das freiras francesas Alice Domon e Leónie Duquet
da adolescente sueca Dagmar Hagelin
Entre outros.
Em 1990, foi condenado à prisão perpétua pela Justiça francesa. 
Anjo da morte ou do mal? 
Talvez aquele Mal que nem o Cristo nos ajudou a decifrar, quando pronunciou 
o “eles não sabem o que fazem”.
O fato é que, enquanto houver entre os humanos gente da espécie de Astiz
continuaremos a exercitar nossa indignação e a procurar, 
como escreveu André Malraux
“a região crucial da alma, onde o Mal absoluto se opõe à fraternidade”.