O menino delinquente precisa
se tornar homem com rapidez, para ser punido ou destruído. A grande máquina não
perdoa quem a transgride. Pune o pequeno traficante, mas acata o grande bandido.
Prende e tortura quem a desafia, mas cobre de benesses quem com ela se
acumplicia. Acobertados pelo emaranhado de leis e de normas seus subalternos se
sentem levados a esquecer o humano e a louvar a Deus, de quem se acham cópias,
ainda que imperfeitas. E sob o código
dessa imperfeição justificam a reprodução das leis das sociedades de classes,
que julgam eternas.
Até que um dia surge a
hecatombe, sob a forma do fundamentalismo ou do contra poder das milícias do
narcotráfico. Ou, quem sabe, de outras formas quaisquer de revoltas
desorganizadas ou de matanças descabidas. Aí chorarão a filha sequestrada, a
mulher estuprada, o filho assassinado durante a tentativa de roubo do boné ou
do automóvel.
Então, eles, que se guardavam
indiferentes, em meio aos barulhos noturnos de suas festas no rol de algum
edifício ou escutando o marulhar das rolhas de champanhe nos camarotes das
grandes festas públicas, não mais se sentirão seguros em suas moradias cercadas
de muros, cachorros, aparatos eletrônicos. Dar-se-ão conta, de repente, que
sabem em que lugar do armário está o litro de uísque, mas ignoram onde
os filhos se encontram.
Entõ, a grande máquina que não
perdoa será suspendida nas enormes roldanas e lançada ao mar. E assistiremos à
sua queda com um misto de medo e de júbilo. Como se em torno de nós não mais
restasse senão a Grande Muralha da China.
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