Acertando no coração das trevas...
Numa entrevista a um canal de TV, o poeta e ensaísta Ivan Junqueira retomou na conversa um pouco daquilo que escreveu sobre Otto Maria Carpeaux no livro Cinzas do espólio, recentemente publicado. A entrevista motivou-me a ir à estante e a reler alguns escritos de Carpeaux. Entre eles, o que versa sobre a técnica do romance de Conrad.
Carpeaux começa o ensaio com uma citação do autor de Lord Jim: “ É a minha tarefa fazer ouvir as coisas ao leitor pelo poder da palavra escrita, fazê-lo ouvir, sentir e principalmente ver. Isto, e mais nada, mas é tudo”. Segundo ele, Conrad perseguia “infiltrar-se na nossa consciência”. E é isso o que conseguiu, até mesmo através de um filme (Apocalipse now), baseado em um de seus romances (O coração das trevas). Buscava fazer com que o leitor acreditasse naquilo que ele narrava, a ponto de quedar-se definitivamente impregnado pelos episódios do romance.
Ora, os romancistas eram ‘oniscientes’ e tinham, até então, outras técnicas. Os realistas-naturalistas, segundo Carpeaux, tudo descreviam com minuciosos detalhes (Balzac, Zola). Quanto a Flaubert, buscava o ‘mot juste’ (a palavra certa) e ensinou Maupassant a ‘ver’ uma árvore, em vez de descrevê-la detalhadamente. Pois o importante era descobrir o ‘pormenor significativo’, aquilo que Carpeaux denominou “a limitação objetiva do campo de observação”.
Conrad teve consciência das limitações de sua memória. Renunciou à tradicional ‘onisciência’ do romancista e por isso chegara à ‘raiz de sua técnica’. Suas histórias são narradas de forma fragmentada, através de um ‘intermediário’, como acontece com as histórias de nossas próprias vidas, que nunca são relatadas diretamente, nem de uma só vez, nem seguindo um fio linear.
Lido o ensaio chego à conclusão: em poucas linhas, a genialidade de Otto Maria Carpeaux ‘matou a charada’ de Conrad, um dos mais importantes mestres do romance. Acertou em cheio no 'coração das trevas'...
Carpeaux começa o ensaio com uma citação do autor de Lord Jim: “ É a minha tarefa fazer ouvir as coisas ao leitor pelo poder da palavra escrita, fazê-lo ouvir, sentir e principalmente ver. Isto, e mais nada, mas é tudo”. Segundo ele, Conrad perseguia “infiltrar-se na nossa consciência”. E é isso o que conseguiu, até mesmo através de um filme (Apocalipse now), baseado em um de seus romances (O coração das trevas). Buscava fazer com que o leitor acreditasse naquilo que ele narrava, a ponto de quedar-se definitivamente impregnado pelos episódios do romance.
Ora, os romancistas eram ‘oniscientes’ e tinham, até então, outras técnicas. Os realistas-naturalistas, segundo Carpeaux, tudo descreviam com minuciosos detalhes (Balzac, Zola). Quanto a Flaubert, buscava o ‘mot juste’ (a palavra certa) e ensinou Maupassant a ‘ver’ uma árvore, em vez de descrevê-la detalhadamente. Pois o importante era descobrir o ‘pormenor significativo’, aquilo que Carpeaux denominou “a limitação objetiva do campo de observação”.
Conrad teve consciência das limitações de sua memória. Renunciou à tradicional ‘onisciência’ do romancista e por isso chegara à ‘raiz de sua técnica’. Suas histórias são narradas de forma fragmentada, através de um ‘intermediário’, como acontece com as histórias de nossas próprias vidas, que nunca são relatadas diretamente, nem de uma só vez, nem seguindo um fio linear.
Lido o ensaio chego à conclusão: em poucas linhas, a genialidade de Otto Maria Carpeaux ‘matou a charada’ de Conrad, um dos mais importantes mestres do romance. Acertou em cheio no 'coração das trevas'...
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