Roberto Arlt e Fernando de Noronha
No dia 20 de março de 1937 foi publicado no jornal Tiempos presentes crônica do renomado escritor argentino Robert Arlt, intitulada Cuatro presidiarios a la deriva. Trata de quatro presos que se evadiram da ilha de Fernando de Noronha em jangadas improvisadas. O estilo inconfundível de Arlt monta o cenário e descreve a ilha a partir de fotografias: a desolação tropical e a “água azul tão quieta e resplandecente como um lago de mármore das Mil e uma noites”. O cronista não se preocupa muito em saber se a polícia brasileira encontrará um dia os supostos criminosos e até sugere ter por eles certa simpatia. Os presidiários chegariam um dia a essa “maravilhosa costa verde garrafa e alaranjada do Brasil”. A notícia transforma-se , como num passe de mágica, num texto da grande literatura. Para Arlt, a topografia de nosso litoral, eventual ponto de chegada dos fugitivos, é mais do que paisagem: é “dramática e circunspecta como convém a todas as terras onde a aventura só é possível mediante o auxílio do mistério”... En El paisaje en las nubes (Mexico: Fondo de Cultura Económica. 2009), reunião de suas crônicas no El Mundo (entre 1937 e 1942), o grande escritor argentino demonstra que a crônica nem sempre é um gênero subalterno.
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