A crítica em perigo
Às vezes, somos levados a pensar que a academia é uma loja de bijuterias, cujas clientes se deliciam em ostentar os mesmos objetos. Até que uma delas troca de adereço e as outras passam a imitá-la, enquanto aguardam a eleição de um novo colar ou pulseira da vez.
O estruturalismo caiu de moda muito tarde. Foi substituído por novas ‘teorias’, entre elas a dos estudos culturais, tentativa de utilização de um sub-marxismo para interpretação de alguns fenômenos ditos ‘pós-modernos’: o escritor mestiço, a nacionalidade híbrida, o contista negreiro, a feminilidade desfeita.... Abandonada sem crítica, a teoria da moda é geralmente substituída por outra. Depois, passa a ser ‘esquecida’, como os arquivos do DOPS. E tudo recomeça, numa espécie de espiral de nosso universo esquizofrênico, regido pelo paradigma do esquecimento. Quem era ‘estruturalista” passa a ser seu crítico, sem qualquer constrangimento. Como aqueles que apoiaram a repressão e acabaram virando ‘democratas’.
Felizmente, tem havido algumas exceções. Exemplo: José Guilherme Merquior, um dos críticos ‘pensantes’ mais importantes do país. Enterrado pelo pensamento oficial durante três décadas, algumas de suas idéias – sobretudo a acerba crítica ao estruturalismo literário, contida no livro De Praga a Paris, editado em 1985 e traduzido no Brasil em 1991 – antecedem muitos críticos que hoje retomam sua linha de pensamento, inclusive em outros países.
É interessante, por exemplo, observar a admiração que ele – tido como de ‘direita’ – tinha por Walter Benjamin, considerado de filiação marxista, ao mesmo tempo em que voltou sua artilharia demolidora contra Roland Barthes, principal oráculo do Olimpo acadêmico.
Quais, para ele, as principais diferenças entre Benjamin, “exemplo extraordinário de crítico cultural e um dos primeiros ensaístas do Ocidente” e Roland Barthes? Em primeiro lugar, escreveu José Guilherme Merquior, Benjamin era uma mente “capaz de lidar com a literatura moderna” e seu horizonte abrangia escritores de várias origens, num largo leque que ia da Alemanha à Rússia, da Inglaterra à França. Barthes, por sua vez, era um ‘provinciano’, limitado ao mundo francês.
Às vezes, somos levados a pensar que a academia é uma loja de bijuterias, cujas clientes se deliciam em ostentar os mesmos objetos. Até que uma delas troca de adereço e as outras passam a imitá-la, enquanto aguardam a eleição de um novo colar ou pulseira da vez.
O estruturalismo caiu de moda muito tarde. Foi substituído por novas ‘teorias’, entre elas a dos estudos culturais, tentativa de utilização de um sub-marxismo para interpretação de alguns fenômenos ditos ‘pós-modernos’: o escritor mestiço, a nacionalidade híbrida, o contista negreiro, a feminilidade desfeita.... Abandonada sem crítica, a teoria da moda é geralmente substituída por outra. Depois, passa a ser ‘esquecida’, como os arquivos do DOPS. E tudo recomeça, numa espécie de espiral de nosso universo esquizofrênico, regido pelo paradigma do esquecimento. Quem era ‘estruturalista” passa a ser seu crítico, sem qualquer constrangimento. Como aqueles que apoiaram a repressão e acabaram virando ‘democratas’.
Felizmente, tem havido algumas exceções. Exemplo: José Guilherme Merquior, um dos críticos ‘pensantes’ mais importantes do país. Enterrado pelo pensamento oficial durante três décadas, algumas de suas idéias – sobretudo a acerba crítica ao estruturalismo literário, contida no livro De Praga a Paris, editado em 1985 e traduzido no Brasil em 1991 – antecedem muitos críticos que hoje retomam sua linha de pensamento, inclusive em outros países.
É interessante, por exemplo, observar a admiração que ele – tido como de ‘direita’ – tinha por Walter Benjamin, considerado de filiação marxista, ao mesmo tempo em que voltou sua artilharia demolidora contra Roland Barthes, principal oráculo do Olimpo acadêmico.
Quais, para ele, as principais diferenças entre Benjamin, “exemplo extraordinário de crítico cultural e um dos primeiros ensaístas do Ocidente” e Roland Barthes? Em primeiro lugar, escreveu José Guilherme Merquior, Benjamin era uma mente “capaz de lidar com a literatura moderna” e seu horizonte abrangia escritores de várias origens, num largo leque que ia da Alemanha à Rússia, da Inglaterra à França. Barthes, por sua vez, era um ‘provinciano’, limitado ao mundo francês.
A segunda diferença: embora Benjamin tenha adotado “mais do que um elemento da ideologia do modernismo!”, nunca se restringiu à arte sem objeto, nem separou signo do significado. Ou seja, nunca “separou a literatura de seu revestimento histórico”.
É essa mesma crítica a que fez Merquior a Todorov – cuja auto-crítica surge este ano sob a forma de um livro medíocre, intitulado A literatura em perigo. Sobre Todorov registrou Merquior, em 1985: “Em todo caso, desejaríamos que seu apelo a um novo humanismo racional na crítica literária simpatizasse mais com as abordagens históricas e fosse menos depreciativo com o marxismo”.
É essa mesma crítica a que fez Merquior a Todorov – cuja auto-crítica surge este ano sob a forma de um livro medíocre, intitulado A literatura em perigo. Sobre Todorov registrou Merquior, em 1985: “Em todo caso, desejaríamos que seu apelo a um novo humanismo racional na crítica literária simpatizasse mais com as abordagens históricas e fosse menos depreciativo com o marxismo”.
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