quarta-feira, 15 de junho de 2011



O gênio excluido 

Na França, país das polêmicas culturais, abriu-se mais uma discussão em torno de Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), certamente o escritor francês mais controvertido. O ministro da cultura excluiu recentemente seu nome da lista de celebrações nacionais para o ano de 2011, na qual o autor de Viagem ao fim da noite havia sido inscrito após votação feita por personalidades escolhidas pelo próprio Ministério. Antissemita e acusado de ter colaborado com os nazistas durante a ocupação da França, na Segunda Guerra Mundial, a influência de Cèline sobre a literatura francesa do século XX só é comparável à exercida pelos escritos de Marcel Proust. Dotados de uma linguagem singular, ancorada na oralidade e valendo-se de expressões da gíria corrente, seus romances carregados de pessimismo – em particular o Voyage au bout de la nuit – trouxeram, paradoxalmente,  um grande aceno de novidade à literatura francesa da primeira metade do século passado. Numa de suas entrevistas, já totalmente marginalizado e exercendo uma medicina junto aos pobres de seu bairro, Cèline declarou que é o estilo o que diferencia um grande escritor e que qualquer um é capaz de contar histórias, mas apenas dois ou três conseguem escapar à mediocridade de sua época. Cèline foi um deles.
Tendo que escolher entre uma escrita genial e a exclusão de uma personalidade chocante, o ministro da cultura da França optou por essa última alternativa. Num país que negociou a rendição com o regime nazista, assuntos dessa natureza serão sempre um tabu. Mesmo que com isso sofra a mais alta literatura em língua francesa.

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