quinta-feira, 30 de abril de 2009


Como Pernambuco tratou um de seus homens mais ilustres

ATO N. 1472, de 28 de Dezembro de 1939.O Interventor Federal no Estado, tendo em vista o ofício do Engenheiro Joaquim Cardoso, encaminhado pelo Secretário de Viação e Obras Públicas, resolve exonerá-lo a bem do serviço público do cargo de Engenheiro-Auxiliar da Diretoria de Viação, Obras Públicas e Oficinas, por incapacidade técnica para o exercício das funções, confessada naquele documento de próprio punho.
____

sexta-feira, 24 de abril de 2009


Indivíduo e sociedade

Cesar Vallejo

Quando foi dado início ao interrogatório, o assassino deu sua primeira resposta, lançando um demorado olhar sobre os membros do Tribunal. Um deles, o juiz substituto Milad, parecia de maneira impressionante com o acusado. A mesma idade, o mesmo olho direito mutilado, o corte e cor do bigode, a linha e espessura do busto, a forma da cabeça, o penteado. Um duplo absolutamente idêntico. O assassino viu seu duplo e algo deve ter acontecido em sua consciência. Girou estranhamente seu olho esquerdo e morto, puxou seu lenço e enxugou o suor da dura face. A primeira pergunta de fundo, formulada pelo presidente do Tribunal, foi:
-Você gostava de mulheres e, além de Malou, teve sua empregada doméstica, sua cunhada e duas queridas mais...
O acusado compreendeu o alcance processual daquela pergunta. Confuso, cravou seu único olho são no juiz substituto Milad, seu duplo, e disse:
- Gostava das mulheres, como todos os homens...
O assassíno parecia sentir um nó na garganta. A presença de seu duplo começava a causar nele um visível embora misterioso mal-estar, talvez um grande medo... Sempre que era formulada uma pergunta grave e terrível, olhava seu duplo com seu único olho e respondia cada vez mais vencido. A presença de Milad provocava nele um dano crescente, influenciando de um modo funesto o funcionamento de seu espírito e do julgamento. Ao final da primeira audiência, sacou do lenço e se pôs a chorar.
Na tarde da segunda audiência mostrou-se ainda mais abatido. Ontem, dia da sentença, o assassino era, antes da condenação, um farrapo humano, um destruído, um culpado irremediavelmente perdido. Quase já não falava. À leitura do veredicto de morte, ficou afundado no seu banco, a cabeça submersa entre as mãos, insensível, frio, como uma pedra. Quando em meio ao alvoroço e murmúrios da multidão consternada os guardas o agarraram, olhava fixamente apenas a cara de Milad, seu duplo, o juiz substituto.
***
Sem mostrar o menor sinal de temor e sem ao menos se disfarçar, o assassino continuou a viver normalmente, aos olhos de todos. Longe de se esconder, como teria feito qualquer matador vulgar, andava por toda parte. A polícia não pode encontrá-lo, justamente porque não se escondia. Pascal tinha razão, quando disse: “Tu não me buscarias se não me tivesses encontrado”.
A tal ponto o indivíduo é livre e independente da sociedade.
____
Após o famigerado debate no Supremo Tribunal Federal, cujo presidente dispensa comentários, resolvi traduzir este conto de Cesar Vallejo, que faz parte do livro Contra el secreto profissional. Tanto os contos desse livro como a novela Tungstenio constam da edição Cesar Vallejo – novelas y cuentos completos, organizada por Ricardo González Vigil (Lima: Ediciones Cope Peru, 1998), presente de meu amigo, o poeta Hildebrando Pérez.
Ilustra o conto o símbolo do Tungstênio.
____



Palabras para Vallejo
A revista Martín, da Universidad San Martín de Porres, do Peru, dedicou seu número 18, de outubro de 2008 ao poeta Cesar Vallejo. Seus editores são Hildebrando Pérez Grande, Guillermo Thornike y Jesús Ruiz Durand. Esta foi a nosssa contribuição, ao lado de pessoas de vários países, na parte intitulada Palabras para Vallejo:

"A lava da poesia de Cesar Vallejo aquece e ilumina nossa condição humana e sua magia descortina os altiplanos mais extraordinários da criação. Às vezes indaguei a mim mesmo por que me sentia feliz ao ler alguns poemas duros ou tristes do grande peruano. Observei que além da genialidade de concepção, havia sempre a réstia de inusitada generosidade e de indizível beleza a penetrar cada um de seus versos. E dei-me conta que aquela minha alegria havia nascido do sentimento de pertencer à mesma humanidade sem limites de Cesar Vallejo, aquela dos poetas e proletários que, como ele, “morrem de universo”.

terça-feira, 21 de abril de 2009


Eugenio Montale

Forse un mattino andando in un’aria di vetro...

Talvez uma manhã andando em ar de vidro,
árido, voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada a minhas costas, o vazio detrás
de mim, com um terror de ébrio.

Depois, como num quadro, acamparão de chofre
árvores casas colinas, para o engano costumeiro.
Mas eis que será tarde: e eu andarei mudo,
entre os homens que não se voltam, com meu segredo.


A propósito desse poema de Eugenio Montale, escreveu Italo Calvino: “O ar-vidro é o verdadeiro elemento dessa poesia, e a cidade mental em que a situo é uma cidade de vidro, que se faz diáfana até desaparecer. É a determinação do meio que desemboca no sentido do nada (enquanto em Leopardi é a deterinação que atinge o mesmo efeito). Ou, para ser mais preciso, existe um sentido de suspensão, do ‘Talvez certa manhã’ inicial, que não é indeterminação mas equilíbrio atento, ‘andando em ar de vidro’, quase caminhando pelo ar, no ar, no frágil vidro do ar, na luz fria da manhã, até que não nos damos conta de estar suspensos no vazio” (...).”

CALVINO, I. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras. 2007. p. 223.
____
A ilustração é parte de um vitral de Alfred Menassier
____

segunda-feira, 20 de abril de 2009


Exercício

William Carlos Williams (1883-1963)

Talvez fosse sua mulher
o carro é um carro oficial
pertencente

a um reles agente de polícia
eu acho
mas seu traje

era longe de ser oficial
para aquela hora
do dia
___________________________
Maybe it's his wife/the car is an official car/belonging//to a petty police officer/I think/but her get-up//was far from official/for that time/of day.
_____
Fotografia de Alfred Eisenstaedt
______

A crise e o poeta

Em 1929, o poeta espanhol, Federico García Lorca, encontrava-se em Nova Iorque, onde foi testemunha do desespero de milhares de pessoas que haviam perdido seus haveres no crach da Bolsa. Pela primeira vez na história do capitalismo um abalo sísmico derrubava não apenas as ações das grandes empresas. Ela esvaia, sobretudo, aquela crença de que os mecanismos da economia rodavam com a tranqüilidade de um automóvel Ford. Ao contrário do esperado, tudo ocorreu como aquela última visita de Sansão ao templo, cujos fundamentos não resistiram a sua força inexplicável.
O mais conhecido biógrafo de Lorca, Ian Gibson, escreveu que na correspondência enviada pelo poeta aos pais, que viviam em Granada, ficara o relato sobre a multidão apinhada diante da Bolsa de Valores, como uma manada de animais em desespero. Durante sete horas a fio, o poeta – que certamente conhecia muito pouco de economia – plantou-se no meio da turba para captar o sentimento daquele 24 de outubro, doravante conhecido como a ‘quinta-feira negra’. Lorca contou que, ao chegar, quase presenciara a morte de alguém que havia saltado de uma janela de edifício. Era apenas um entre as centenas de suicídios que se sucederam ao crack inesperado.
Lorca fez seu registro do episódio em Danza de la muerte, poema do livro Poeta em Nova Iorque: “A máscara bailará entre colunas de sangue e números/ entre furacões de ouro e gemidos de operários parados/ que uivarão noite escura por teu tempo sem luzes/ Oh! Selvagem América do Norte! Oh impudica! Oh! Selvagem/ estendida na fronteira da neve!” (...). Denúncia contra a moral de uma sociedade impudica e fria, que disseminara a idéia de que o liberalismo era o mais natural dos caminhos para a humanidade.

A última visita

"Das minhas emoções sentidas ao longo do meu viver, a mais sofrida e inesquecível foi o primeiro encontro que eu e minhas irmãs tivemos com Miguel, na Casa de Detenção do Recife. Vimos Arraes de uma grade de ferro, atravessando o pátio interno da casa, descalço, vestindo uma roupa diferente, sem cinturão para ajustar a calça, que com as mãos ajudava a manter na cintura. À sua chegada, junto a nós, muito emocionado, nos abraçou em silêncio, depois perguntou por Mamãe e disse: Lamento vê-la sofrer, mas ela sabe o porquê da minha atitude (foram mais ou menos estas suas palavras). Naquele instante um soldado mandou que ele se retirasse.Voltamos com o coração em frangalhos e só nos encontramos anos depois, com a sua volta, que se deu conforme a profecia de Sanakan: voltaria montado num cavalo branco para alegria do seu Povo."
______________
Tia Almina nos narrou esse fato e pedimos que ela fizesse uma anotação para que ficasse registrado. O texto foi escrito ontem e enviado por e-mail.
______________

domingo, 19 de abril de 2009


Enfim, chega às bancas a obra de Joaquim Cardozo...
_____

sexta-feira, 10 de abril de 2009


Porque era eu

Dorival Caimy/Leopardi. e O Infinito. Montaigne/Chico Buarque e Porque era ela? No CD Carioca, a música Porque era ela/porque era eu bem que faz lembrar Montaigne, no texto sobre a amizade, no qual o escritor francês trata das relações afetivas - mas sem nenhuma ambigüidade -, entre ele e Estienne de la Boetie, o autor de La servitude volontaire (A servidão voluntária). Numa passagem do ensaio, escreveu Montaigne: “Si on me presse de dire pourquoy je l’aimois, je sens que cela ne peut exprimer///qu’en repondant: ‘Par ce que c’estoit luy ; par ce que c’estoit moy’ ».(« Se me forçam a dizer porque eu o amava, sinto que isso não pode se exprimir senão respondendo: Porque era ele; porque era eu”).

quarta-feira, 8 de abril de 2009


de Safo

em nenhum telescópio
encontro
as plêiades de safo
nem noites de verão
junto ao touro
beirando zênite
sete irmãs
em nenhum relógio
descubro hora
noite estação degredo
de transeunte carne
dentro de mim só
o som sagrado
do segredo

segunda-feira, 6 de abril de 2009




A palavra perdida
María Zambrano

Não somente a linguagem mas as palavras todas, por únicas que nos pareça, por solitárias que partam e por inesperada que seja a sua aparição, aludem a uma palavra perdida, o que se sente e se sabe de imediato, por vezes na angústia, e numa espécie de alvorecer que a anuncia a palpitar por momentos. E ela também é sentida a pulsar no fundo da própria respiração, do coração que a guarda, penhor do que a esperança não consegue imaginar. E na própria garganta, fechando com a sua presença a passagem da palavra que ia sair. Essa porta que a alva fecha quando se abre. O amor que nunca chega, que desfalece ao chegar a aurora, o inapreensível que parte dos que vão morrer ou estão já a morrer, e que lutam – tormento da agonia – por a deixar aqui e a derramar e que já não lhes é possível. A palavra que se vai com a morte violenta, e a que sentimos que a precede como guia, a guia dos que, enfim, podem morrer.
Perdida a palavra única, segrefo do amor divino-humano. E não estará ela assinalada por aquelas privilegiadas palavras quase imperceptíveis, como o murmúrio de uma pomba: Direis que me perdi,/Que, andando enamorada,/Por perdida me dei e fui ganhada. *
____
(*) do Cantico espiritual, de San Juan de la Cruz.
____
ZAMBRANO, M. Clareiras do bosque. Lisboa: Relógio d'Água. 1995 (tradução de José Bento)
___________

domingo, 5 de abril de 2009



















BLANCA VARELA


Há poucos dias faleceu Blanca Varela, a grande dama da poesia peruana. A notícia nos chegou através do poeta Hildebrando Perez. O poema que segue, tradução nossa e de Diego Raphael, consta da antologia da poesia peruana El río hablador/O rio que fala, editada pela Ensol/7Letras, em 2006.

Puerto Supe

a J. B.
Está mi infancia en esta costa,
bajo el cielo tan alto,
cielo como ninguno, cielo, sombra veloz,
nubes de espanto, oscuro torbellino de alas,
azules casas en el horizonte.

Junto a la gran morada sin ventanas,
junto a las vacas ciegas,
junto al turbio licor y al pájaro carnívoro.

¡Oh, mar de todos los días,
mar montaña,
boca lluviosa de la costa fría!

Allí destruyo con brillantes piedras
la casa de mis padres,
allí destruyo la jaula de las aves pequeñas,
destapo las botellas y un humo negro escapa
y tiñe tiernamente el aire y sus jardines.

Están mis horas junto al río seco,
entre el polvo y sus hojas palpitantes,
en los ojos ardientes de esta tierra
adonde lanza el mar su blanco dardo.
Una sola estación, un mismo tiempo
de chorreantes dedos y aliento de pescado.
Toda una larga noche entre la arena.

Amo la costa, ese espejo muerto
en donde el aire gira como loco,
esa ola de fuego que arrasa corredores,
círculos de sombra y cristales perfectos.
Aquí en la costa escalo un negro pozo,
voy de la noche hacia la noche honda,
voy hacia el viento que recorre ciego
pupilas luminosas y vacías,
o habito el interior de un fruto muerto,
esa asfixiante seda; ese pesado espacio
poblado de agua y pálidas corolas.
En esta costa soy el que despierta
entre el follaje de alas pardas,
el que ocupa esa rama vacía,
el que no quiere ver la noche.

Aquí en la costa tengo raíces,
manos imperfectas,
un lecho ardiente en donde lloro a solas.


Porto Supe
a J. B.

Mora minha infância nesta costa,
sob céu tão alto,
céu como nenhum, céu, sombra veloz,
nuvens de espanto, escuro torvelinho de asas,
casas azuis no horizonte.

Junto à grande morada sem janelas,
junto às vacas cegas,
junto ao turvo licor e ao pássaro carnívoro.

Oh, mar de todos os dias,
mar montanha,
boca chuvosa desta costa fria!

Ali destruo com brilhantes pedras
a casa de meus pais,
ali destruo a gaiola das aves pequenas,
destapo as garrafas e uma fumaça negra escapa
e tinge ternamente o ar e seus jardins.

Moram minhas horas junto ao rio seco,
entre poeira e folhas palpitantes,
nos olhos ardentes desta terra
onde lança o mar seu branco dardo.
Uma única estação, um mesmo tempo
de escorregadios dedos e hálito de peixe.
Toda uma longa noite entre as areias.

Amo a costa, esse espelho morto
onde o ar gira como louco,
essa onda de fogo que arrasa corredores,
círculos de sombra e cristais perfeitos.
Aqui na costa escalo um negro poço,
vou da noite à noite mais profunda,
vou ao vento que percorre cego
pupilas luminosas e vazias,
ou habito o interior de um fruto morto,
essa asfixiante seda; esse pesado espaço
povoado de água e pálidas corolas.
Nesta costa sou o que desperta
entre a folhagem de asas pardas,
o que ocupa esse ramo vazio,
o que não quer mais ver a noite.

Aqui na costa tenho raízes,
mãos imperfeitas,
e um leito ardente onde choro a sós.
_______________________
O funâmbulo

Jean Genet

"Uma lantejoula de ouro é um disco minúsculo feito de metal dourado, trespassado por um orifício. Tão fina e tão leve que pode flutuar sobre a água. Às vezes, uma ou duas ficam agarradas nos cachos de cabelos de um acrobata.
Este amor – mas, quase desesperado; mas, carregado de ternura – que deves demonstrar ao teu arame, terá a mesma força desse fio de ferro que suportará o teu peso. Conheço os objetos: sua crueldade, sua perversidade e também sua gratidão. O arame estava morto – mudo, cego, como quiseres – ei-lo: agora ele vai viver e vai falar.
Tu o amarás, e de um amor quase carnal. Cada manhã, antes de começar teus treinos, quando ele estiver tenso e vibrante, vai dar-lhe um beijo. Pede que te suporte e te conceda a elegância e um jarrete ágil. Ao fim de cada sessão, reverencia-o, agradece-lhe. E quando, à noite, ele ainda estiver enrolado, guardado em sua caixa, vai vê-lo e o acaricia. E, então, coloca docemente tua face contra a dele.
Certos domadores usam de violência. Podes tentar domar teu arame. Mas, não te fies nisso. O arame, como a pantera e, segundo se diz, como o povo, gosta de sangue. Assim, é melhor tentar domesticá-lo.
Um ferreiro – só um ferreiro de bigodes grisalhos e largas espáduas pode se permitir tais delicadezas – saudava assim, a cada manhã, sua amada, sua bigorna:
- Oh! Minha bela!
De noite, o dia já findo, sua mão calejada a acariciava. A bigorna não parecia insensível àquele gesto e o ferreiro se surpreendia comovido.
Incumbe ao arame executar a mais bela expressão possível; não a tua, mas a dele. Teus pulos, teus saltos, tuas danças – na gíria dos acrobatas, teus volteios, saltos mortais, estrelinhas etc – serão executados não para que brilhes, mas para que o arame, que jazia morto e sem voz, possa, enfim, cantar. E, assim, ele te será grato: se fores perfeito em tuas atitudes, não em busca de tua glória, mas da dele.
Que o público, maravilhado, o aplauda:
_Que arame maravilhoso! Como ele suporta tão bem seu bailarino e como ele o ama!
Ao chegar a tua vez o arame será para ti o mais maravilhoso bailarino.
E, então, será o chão que te fará tropeçar!"
_______
Depois de assistir a adaptação para o teatro de O funâmbulo, de Jean Genet, feita por João Denis, resolvi traduzir este pequeno texto.
___________________________

O Infinito

E pouco provável que Dorival Caimy tenha lido Leopardi antes de compor uma de suas músicas mais famosas, É doce morrer no mar. No entanto, o famoso verso já estava contido em O infinito, o mais conhecido texto do poeta italiano Leopardi, escrito em 1819. Nada de plágio. Apenas sintonia surgida da contemplação do mar...

O Infinito

Sempre caro mi fu quest’ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell’ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l’eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Così tra questa
Immensità s’annega il pensier mio:
E il naufragar m’è dolce in questo mare.
___

O Infinito

Sempre cara me foi esta colina
E esta sebe que, de toda parte,
Do último horizonte exclui a vista.
Mas sentado e olhando o interminável
Espaço além daqui, e os sobre-humanos
Silêncios e a mais funda quietude
No meu pensar me finco. E assim por pouco
O coração não pára. E como o vento
Ouço murmurar detrás das plantas,
O infinito silêncio a essa voz
Vou comparando: e lembro o eterno,
E as mortas estações e a presente,
tão viva, e os seus sons. E a imensidão
Onde se afoga o pensamento meu:
E o naufragar me é doce neste mar.
______
A ilustração é de Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851).
_________________________________________
Duas traduções de Mario Martínez Sobrino
FRACTALES

Por la inmersión
de las sombras
calculo
el itinerario de la luz.

Mido los contornos de nuestras ruinas
en la matemática particular
de las desesperaciones.

Abro la ventana
de la página del sueño.

Deletreo, despacio
el Aywu Rapitá:
el ser del ser de la palabra,
(flor pronunciada
entre las estrellas.)


La noche
se derrumba sobre las tejas
en la explosión de un meteoro.

Cuento esquirlas,
recompongo parábolas:
un mínimo de lo que soy
recuerda las fronteras
del Universo.


FLAMBOYANT

reviento
el corazón del verde
en esta tarde
es cuando el sol florece
jaboticabas al pie
maduro color del ojo
divino
es un color indefinido
hálito que no se describe
sólo soy
el encarnado

reviento
el corazón del verde
y sangro
al ritmo regular
y persistente de la lluvia
entonces
discurro lo que pasa
sobre esta mancha
que ensucia
la avaricia de los días
soy

tan sólo la herida
en lo alto de una tarde
una corona de espinos
en el silencio
_________

Traducción al español de
Mario Martínez Sobrino:

Mario Martínez Sobrino (La Habana, 1931). Poeta, traductor y ensayista. Durante más de veinte años ejerció la diplomacia. Ha publicado los siguientes poemarios: Poesía de un año treinta y cinco (1968), Cuatro leguas a La Habana (1978), Tarde, noche, otro día (1982), Mientras (1992), Dueño del terror (1992), Largo verano (México, 1995), Cabellera de un relámpago (1998), Helechos (2001), y Figuras de tormenta (2004). A este último le fue otorgado el Premio Nicolás Guillén de ese año. Compiló, tradujo y publicó en 2005 una antología del poeta brasileño Ferreira Gullar, titulada Todos te buscan. Poemas suyos han sido traducidos al alemán, francés, portugués, inglés, ruso, serbio-croata y húngaro, y han sido incluidos en antologías de Cuba y del exterior. Colabora en revistas nacionales y extranjeras. Actualmente tiene en preparación el poemario “Aguas varias”.
__________________________________________
Nota del traductor: jaboticaba, Myrciaria cauliflor o Myrtus cauliflora.
__________________________________________
A ilustração é do pintor mexicano Francisco Toledo
_____________________________________

Contra a nova ortografia (2)

¿ ?

A língua - e a poesia - tem seus ditadores. Ditadores ordenam, nunca perguntam. Se perguntassem, teriam se deparado com um problema fundamental de nossa idioma: o ponto de interrogação. E teriam feito como os espanhóis: a interrogação no inicio e no fim da frase. Para evitar os sustos, quando só percebemos, no final da leitura de um longo período, que se trata de uma pergunta. Os ditadores da língua esquecem que ela não tem apenas fala: também tem ouvidos.
¿ ?

quinta-feira, 2 de abril de 2009


contra a nova ortografia...
O voo sem o acento ^^ arranca a asa do pássaro...