quinta-feira, 8 de março de 2012




A tatuagem escreve e circunscreve o corpo. Esconde e, ao mesmo tempo, desnuda. Escorpião ou colibri, estrela ou dragão a cuspir chamas, os traços investem em colorido sobre a epiderme, delimitam um território. O desejo de anunciar o diferente anula-se na reprodução de signos que nada mais dizem.  O gesto que tem por desejo reduzir o anônimo, anuncia o banal. A reprodução técnica carimba o coletivo e o transforma em gado. O corpo, em vez de praça para expressão de alguma estética ou símbolo, metamorfoseia-se em fetiche, tal o código de barras da mercadoria na vitrine.
O olho perdeu o hábito da paisagem, foi rendido aos sinais. A velocidade da vida não permite que ele transgrida, demore-se, alongue o horizonte que deixa vislumbrar o mistério. Rapidez e clareza são as características das marcas feitas para anunciarem perfumes, automóveis, partidos políticos, gente. A massificação da moda após a disseminação do prêt-à-porter relegou a originalidade aos desfiles de modas apresentadas na televisão por modelos andróginos, onde há mais de baile de fantasia do que protótipos de vestimentas: roupas mostram-se, mas não vestem.
Diluído na multidão, sem nada que o diferencie da onda humana que cada dia mais toma conta dos espaços públicos, vestida com camisetas berrantes repletas de frases em inglês, ou com marcas que sugerem algum luxo, resta ao indivíduo recorrer ao tatoo. E, assim, fazer o contrário da tradição indígena que tinha no corpo – a exemplo dos cadiuéus – o lastro anunciador de uma estética cujos significados transcendiam o vulgar.

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