GRANTA 10
"O décimo volume de Granta em português traz 14 textos inéditos no
Brasil que remetem a situações-limite. Mesclando nomes nacionais e
internacionais já consagrados e outros promissores, a edição reúne contos,
ensaios, relatos e cartas que abordam o extremo da loucura, da doença e do sexo,
ou ainda que narram momentos, sem precedentes, de crise. São histórias sobre
envolvimento com drogas, mazelas de guerras, perda da memória e, em caso
extremo, a própria morte.
Will Self abre a edição de Granta: medidas extremas com um relato de
cunho autobiográfico sobre uma crise aguda em sua vida. De língua inglesa, está
também presente uma heterogênea seleção de escritores norte-americanos, entre
eles Stephen King, Don DeLillo, A. M. Homes e Phil Klay, além da inglesa
Jeanette Winterson e da canadense Alice Munro.
O volume inclui um ensaio de Roberto Bolaño e um conto de Evelio Rosero,
considerado um dos grandes escritores colombianos da geração pós-García Marquez.
Há ainda uma compilação de cartas de António Lobo Antunes destinadas a sua
mulher, então grávida, durante a guerra em Angola. De autores brasileiros, há
textos de Beatriz Bracher, Andréa del Fuego, Adriana Lisboa e Everardo Norões. A
revista dispõe ainda do ensaio em cores com 13 fotos das esculturas do artista
plástico mineiro Matheus Rocha Pitta, que prepara atualmente uma exposição para
a Fondazione Volume!, em Roma.
Já publicado na edição inglesa de Granta sobre terror, Will Self, um
dos finalistas do Booker Prize, escreve o relato “Sangue falso” em primeira
pessoa. Nele, o escritor detalha o diagnóstico de Policitemia vera recebido
durante a virada de 2010 para 2011. A estranha enfermidade gera o súbito aumento
de glóbulos vermelhos no sangue, tornando-o mais grosso. Com franqueza
desconcertante, o autor de Grandes símios rememora o abuso de drogas durante sua
juventude, sem, no entanto, buscar justificativas para seus atos nem expiar
qualquer culpa do passado.
Bem antes de tornar-se um dos mais célebres escritores de língua portuguesa,
António Lobo Antunes participou do conflito colonial de Angola como médico do
exército português entre 1970 e 1973. Durante o período, ele trocou uma série de
cartas com sua então mulher, dentre as quais 12 foram selecionadas para essa
edição. A correspondência flagra o autor em momentos de intimidade, discorrendo
sobre o amor, a medicina, a literatura e a guerra. As mensagens fazem parte do
livro D’este viver aqui neste papel descripto, organizado por suas filhas e
publicado em Portugal em 2005.
Cultuado como o maior expoente da literatura latino-americana contemporânea,
Roberto Bolaño tem o ensaio “Literatura + doença = doença”, extraído do livro El
gaucho insufrible, publicado nessa edição. Em tom áspero, o chileno fala sobre o
ato de escrever, a doença e a morte: “Escrever sobre a doença, principalmente se
você estiver gravemente doente, pode ser um suplício. Escrever sobre a doença se
você, além de estar gravemente doente, é hipocondríaco, é um ato de masoquismo
ou de desespero. Mas também pode ser um ato libertador. Exercer, durante alguns
minutos, a tirania da doença (...) é uma tentação, uma tentação diabólica, mas
ainda uma tentação.”
Entre os brasileiros, a escritora Beatriz Bracher escreve um conto
mimetizando um diário de uma mulher que viaja em busca de seu irmão a uma região
de garimpo no Pará. Adriana Lisboa, que lançará romance pela Alfaguara em 2013,
transita em “Aquele ano em Rishikesh” pela fronteira entre ilusão e realidade ao
abordar o Alzheimer de uma idosa em meio a pensamentos confusos e desconexos com
algum fundo de verdade.
Em “Sofia, o motorista e o cobrador”, Andréa del Fuego dá vida a um cobrador
de ônibus quarentão e sem olfato que cria uma obsessão por Sofia, uma das
passageiras. Fechando o time de escritores nacionais, o poeta cearense Everardo
Norões, já traduzido para diversos idiomas, tem o conto “Na varanda, sobre o
bulevar”, extraído de seu primeiro livro dedicado ao gênero, incluído nessa
edição. O texto de tom onírico é forjado entre o exotismo de uma cultura
estrangeira e repressora e de sensualidade latente. "
Um comentário:
Caro Everardo,
Li o Granta 10 e fiquei surpreso com a Sensibilidade e Beleza de seu "Na varanda, sobre o bulevar".
Destaco o seguinte trecho:
"Vozes lhe chegaram como nuvens. Dentro delas, um rumor de águas. Porque no fim de tudo há sempre um mar, entre verde e cinza, no qual se avista uma nesga, retalho de uma palavra sagrada no corpo das horas."
Meus Parabéns!
Um Forte Abraço, Jorge Xerxes
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