quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!

René Char

Teus dezoito anos refratários à amizade, à malevolência, à tolice dos poetas de Paris, bem como ao zumbido de abelha estéril de tua família ardenesa um pouco maluca, fizeste bem em espalhá-los aos ventos ao largo, de lançá-los sob a lâmina de sua precoce guilhotina. Tiveste razão em abandonar o bulevar dos preguiçosos, os botecos dos poetastros pelo inferno dos idiotas, pelo comércio dos astuciosos e o bom-dia dos simples.
Esse elã absurdo do corpo e da alma, essa bala de canhão que atinge o alvo fazendo-o explodir, sim, isso é de fato a vida de um homem! Não se pode, ao sair da infância, estrangular indefinidamente seu próximo. Se os vulcões mudam pouco de lugar, suas lavas percorrem o grande vazio do mundo e traz-lhe virtudes que cantam nas suas feridas.
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Somos alguns dos que acreditam sem precisar de provas na felicidade possível ao teu lado.
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(Um belo e oportuno  poema de René Char para este nosso final de ano.)

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