segunda-feira, 4 de abril de 2011


O tsunami brasileiro

Ninguém parece se dar conta de que existe um tsunami brasileiro. Como no Japão, grandes obras estão paralisadas, dormitórios de operários destruídos, máquinas gripadas, luzes que deixaram de ficar acesas em muitos lugares. Desertados pelos deuses lares.
O tsunami brasileiro não parece com o japonês, nem tem a mesma forma. Mas, de certo modo, contem a mesma lógica. O tsunami passou a ser um fenômeno universal, inquietante. Como a vaga de Hokusai, “tétrica e bela”, no dizer de Dante Milano, “arreganhando as garras das espumas”.  
A vaga não se forma apenas de elemento líquido. Há também aquela composta do elemento gente. Em qualquer dos casos, a principal característica do tsunami é que quase ninguém consegue ouvir suas sirenes de aviso. Quando elas ecoam, a vaga vem de surpresa, como uma vasta manada de touros. Estouro da boiada, inundação das águas, revolta de gente nem sempre se parecem no início. Mas, no final, o resultado é o mesmo.
Nosso tsunami é histórico e começou há algum tempo. Talvez ninguém mais se lembre da Transamazônica, do crescimento das grandes empresas à custa da corrupção e do financiamento dos órgãos de repressão, do desrespeito dos direitos humanos, do ouro de Serra Pelada. À época, éramos obrigados a calar, havia sempre um argumento para justificar o silêncio. Agora, fala-se que o país mudou, o que é verdade. Mas as mentes que forjaram nossas grandes máquinas de engendrar lucro deixaram as larvas que continuam a contaminar  o país de Macunaíma.
 

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