terça-feira, 31 de janeiro de 2012


Ibn Kaldhun: lições sobre poética

Ibn Kaldhun (1332-1406) escreveu as Moqadimmah, uma espécie de Ciência Nova da história. O seu tratado enciclopédico buscou compreender o estado social do homem e o evoluir das civilizações. Sua obra ocupa lugar especial na literatura.
A Poesia (Shir) merece observações interessantes do escritor e historiador, um dos mais cultos de sua época. De todas as formas de alocução a Poesia é, segundo ele, a que os árabes consideravam a mais nobre. Em contradição com a escrita dos prosadores, a poesia, segundo Ibn Kaldhun, é um discurso eficaz, fundado na metáfora e nas descrições e dividido em trechos que se correspondem pela medida (prosódia) e pela rima; trechos que, cada um, independentemente do que precede e do que se segue, expressam um pensamento cabal e têm um objeto determinado. 
O estilo é definido como a “linguagem da gente de arte” e os requisitos que ele considera fundamentais para compor versos e dominar a arte respectiva são os seguintes:
1.Aprender de memória muitos trechos poéticos até que “a alma tenha adquirido a faculdade de tecer o mesmo tear”. Os trechos a serem decorados devem ser de autoria de poetas insignes.
2.Procurar um retiro absoluto, regado por águas correntes e povoado de flores para se entregar às especulações.
3.Ter consciência do quanto custa colocar a rima no devido lugar.
4.Evitar as expressões vulgares.
5.Ser consciente de que a poesia só é fácil quando as ideias são apresentadas ao entendimento simultaneamente com as palavras.
Ibn Kaldhun critica cânticos que contêm louvores ao Senhor e ao Profeta e raramente são bem feitos, pois esse tipo de composição requer bardos de talento superior. E para definição de poesia cita o poeta An-Nashi: “A poesia é a coisa cuja medida tu regularizas e cujo texto retocas com o objetivo de estreitar-lhe seus laços. Nela verás desregrar-se o ornato quando teu estilo é prolixo e nela aumentarás os encantos através da concisão”.
Acredito que poucos autores de seu tempo debruçaram-se com tal rigor e sabedoria sobre as questões técnicas da poesia e do gosto como árbitro.

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