Movimento de cordas nos rebocadores
Lucila Nogueira
Movimento de cordas nos rebocadores
hora européia de um caleidoscópio de brumas
dedos como submarinos entre sargaços
não é tão longe
de Babilônia a Jerusalém
Cidade-cais de Saint-Nazaire
o atracar e largar de navios
movimento lento em água parada
horizonte indefinido no Loire
varanda entre os andaimes e guindastes
êxtase inesperado das embarcações
Eu sou aqui somente uma estrangeira
e trago a marca da casualidade
eu sou a transeunte forasteira
e assim como cheguei devo partir
Eu sou aqui somente a passageira
e por mais que me entregue
permanecerei alheia
por mais que te queira eu sou farouche
e esta cidade é só o meu percurso
fosso muralha ponte e sentinela
assim como cheguei devo voltar
Ninguém acenará para mim
de qualquer janela
quando eu me for
cais platônico de mim
dimensão metafísica do sonho
cais metáfora do corpo passaporte
somos nós os navios desta noite
cais invisível da ressureição
P.S. Relendo a A quarta forma do delírio, de Lucila Nogueira, reencontrei esse belíssimo poema...
hora européia de um caleidoscópio de brumas
dedos como submarinos entre sargaços
não é tão longe
de Babilônia a Jerusalém
Cidade-cais de Saint-Nazaire
o atracar e largar de navios
movimento lento em água parada
horizonte indefinido no Loire
varanda entre os andaimes e guindastes
êxtase inesperado das embarcações
Eu sou aqui somente uma estrangeira
e trago a marca da casualidade
eu sou a transeunte forasteira
e assim como cheguei devo partir
Eu sou aqui somente a passageira
e por mais que me entregue
permanecerei alheia
por mais que te queira eu sou farouche
e esta cidade é só o meu percurso
fosso muralha ponte e sentinela
assim como cheguei devo voltar
Ninguém acenará para mim
de qualquer janela
quando eu me for
cais platônico de mim
dimensão metafísica do sonho
cais metáfora do corpo passaporte
somos nós os navios desta noite
cais invisível da ressureição
P.S. Relendo a A quarta forma do delírio, de Lucila Nogueira, reencontrei esse belíssimo poema...
Um comentário:
ô Norões, que beleza de poema!
Portos sempre me deram essa sensação de "des-situação".
Na europa então era quase um surto ... o perto e o longe misturados, um vórtice onde presente e passado viravam uma sensação indefinida, uma angústia estranhamente prazeirosa que, agora, o poema da Lucila me trouxe de volta.
Para o bem e para o mal, como aliás é de praxe, em toda boa poesia .
Grande abraço
Postar um comentário