terça-feira, 12 de maio de 2009


De Minha formação no Recife

Gilberto Amado

Nos anos de maturidade, minha posição diante de Rui Barbosa sofreu os mesmos altos e baixos. Destes, o ponto mais fundo foi o discurso no enterro de Machado de Assis no qual, sem necessidade nenhuma, Rui Barbosa falou sobre a “‘bondade” do autor de Quincas Borba. Por que, meu Deus! atribuir uma virtude não provada ao autor de uma obra que se uma característica era a de não crer na bondade humana? A gratuidade de manifestações tais me fazia sofrer. Pensei, a propósito deste discurso, em Capitu que, ainda meninota, Machado de Assis pintava como uma “‘pirata”, e nos malucos enfermos de quem o artista cru e cético sorria. Há certas imprecisões que fazem mal. Machado de Assis não era ruim; não devia ser. Mas era a bondade traço a ser assinalado no homem seco e discreto de que saíram tantas obras em que tudo se pode ver menos a bondade? Foi esta a última raiva que me deu o maior dos brasileiros.

in Minha formação no Recife. Rio de Janeiro: José Olympio Editora. 1955.
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