sexta-feira, 7 de maio de 2010


Nuno Júdice

No dia 5, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, num encontro denominado Tordesilhas, reunindo poetas portugueses e brasileiros, Nuno Júdice leu o seguinte poema, de seu último livro Guia de conceitos básicos, publicado pela editora D. Quixote, este ano:


Uma reflexão sobre a beleza eterna, interrompida pela visão do efêmero

Nuno Júdice

A harmonia que, para os clássicos, exprimia a relação
das partes com o todo, atravessou os milênios sem alterar
o equilíbrio do homem no centro da sua esfera. Esse
homem, com a sua representação simétrica, define-se
a partir de um universo que tem limite
na compreensão divina da matéria
e do espírito. E poderia continuar assim, se
não ouvisse um copo a partir-se no fundo
da casa – alguém que se distraiu, e que rompeu,
de súbito, o meu raciocínio. Ao mesmo tempo,
porém, descobri que nada do que eu pensava
era original; e só ao apanhar do chão os vidros
partidos, um brilho breve no seu contacto com
a luz me fez pensar que, afinal, a harmonia
também nasce da destruição, e o centro da esfera
desloca-se para o fragmento que seguro com
os dedos, antes de o deitar para o lixo.
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