segunda-feira, 20 de abril de 2009


A crise e o poeta

Em 1929, o poeta espanhol, Federico García Lorca, encontrava-se em Nova Iorque, onde foi testemunha do desespero de milhares de pessoas que haviam perdido seus haveres no crach da Bolsa. Pela primeira vez na história do capitalismo um abalo sísmico derrubava não apenas as ações das grandes empresas. Ela esvaia, sobretudo, aquela crença de que os mecanismos da economia rodavam com a tranqüilidade de um automóvel Ford. Ao contrário do esperado, tudo ocorreu como aquela última visita de Sansão ao templo, cujos fundamentos não resistiram a sua força inexplicável.
O mais conhecido biógrafo de Lorca, Ian Gibson, escreveu que na correspondência enviada pelo poeta aos pais, que viviam em Granada, ficara o relato sobre a multidão apinhada diante da Bolsa de Valores, como uma manada de animais em desespero. Durante sete horas a fio, o poeta – que certamente conhecia muito pouco de economia – plantou-se no meio da turba para captar o sentimento daquele 24 de outubro, doravante conhecido como a ‘quinta-feira negra’. Lorca contou que, ao chegar, quase presenciara a morte de alguém que havia saltado de uma janela de edifício. Era apenas um entre as centenas de suicídios que se sucederam ao crack inesperado.
Lorca fez seu registro do episódio em Danza de la muerte, poema do livro Poeta em Nova Iorque: “A máscara bailará entre colunas de sangue e números/ entre furacões de ouro e gemidos de operários parados/ que uivarão noite escura por teu tempo sem luzes/ Oh! Selvagem América do Norte! Oh impudica! Oh! Selvagem/ estendida na fronteira da neve!” (...). Denúncia contra a moral de uma sociedade impudica e fria, que disseminara a idéia de que o liberalismo era o mais natural dos caminhos para a humanidade.

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